Surfistas ou as pessoas que simplesmente tiveram uma pequena amostra do que é deslizar sobre as ondas, seja de pé, deitado, de joelhos e até sem prancha sempre tentaram descrever o que é o surf e como ele é capaz de transcender o esporte em si e se configurar como um estilo de vida.
Mas… Sinceramente? É impossível descrever ou colocar em palavras a sensação sem antes ter provado o verdadeiro sabor da água salgada.
Para você que nunca surfou, seja bem vindo à um mundo líquido, onde a conotação aqui imposta nada tem a ver com superficialidade ou fragilidade e sim com a impossibilidade de contemplação a olho nu.
Podemos até tentar falar sobre o momento em que você vê a onda lá atrás, sente a adrenalina do seu corpo crescer e censurar qualquer tipo de racionalidade. Pouco antes de se perder na lisergia aquática podemos tentar resgatar a memória quando você sente as pernas bambas com a força da água que faz a prancha tremer, ressignificando o que seus pés conheciam como superfície. E mesmo assim não seria suficiente.
Podemos falar daquela onda, aquela que aumenta tão rápido quanto se aproxima, tão poderosa e perfeita que possibilita um estado de relação rápido porém intenso e uma oportunidade única de sintonia completa com a natureza. Não é possível simular a entrega ao prazer de cruzar uma parede verde e cristalina e produzir ali uma arte absolutamente individual. É o seu nome, sua assinatura e uma certeza no peito de que aquela onda foi concebida especialmente para você.
As palavras se tornam miseráveis, afinal a ligação entre o surfista e a onda ainda não pôde ser configurada em nenhum tipo de religião, crença ou fanatismo mas com certeza não é algo desse mundo.
São as ondas que carregam os donos e suas pranchas para lugares incríveis e inóspitos, que molham seus corpos e saciam suas almas. E é apenas para eles que o sol se exibe eroticamente enquanto encosta na água no fim de tarde e descarrega ali o combustível salgado necessário para as próximas quedas.
Chega a ser hedonista, chega até ser profano, e por ser tão bom poderia ser até ilegal, mas é essa liberdade que perfura o coração e a mente de todos aqueles apaixonados e consequentemente viciados por esse esporte.
Apenas uma conexão, mesmo que breve, é capaz de levar o ser humano a explorar e estender seus próprios limites, se projetar ao desconhecido com vontade de viver uma experiência que pode durar míseros segundos, mas que perduram por muito tempo em sua memória e movimentam o sal em suas veias.
É um dos esporte mais difíceis do mundo, exige do corpo sua melhor forma e consciência para poder evoluir. Mas todo o esforço é recompensado. A busca por algo inatingível e imensurável dá ao surf a beleza de um amor platônico. O inexplicável brilho nos olhos que só os apaixonados tem, fruto de um sentimento que muitas vezes não conseguimos colocar em palavras.
Surfe conforme a onda, respeite-a, goste dela e não tente muda-la. Não exija que ela seja maior do que ela pode ser e não peça por mais quando ela não estiver disposta. Cada onda é única, e com paciência você pode devorá-las em sua singularidade para que não seja algo passageiro como um amor de verão e sim uma certeza pro resto dessa jornada.
Por isso não tente entender o surf, deixe quem sabe, que ele entenda você.